Dia 11 de fevereiro é comemorado internacionalmente o Dia das Mulheres e das Meninas na Ciência. Quando pensamos em grandes nomes da ciência, é comum que remetemos boa parte deles aos homens. Das mais de 622 pessoas que ganharam um Nobel nas áreas de ciências desde que a premiação foi criada (1901), apenas 22 mulheres foram vencedoras.

Por essa razão, em 2015, a Organização das Nações Unidas criou essa data, comemorada a partir de 2016 com o objetivo de também honrar mulheres e meninas que contribuíram para conquistas importantes na área, além de inspirar jovens e demais mulheres a seguirem no ramo.

Em um período atípico no qual a sociedade voltou suas atenções para a ciência em busca de reforçar a importância da vacinação e de outras descobertas relacionadas ao coronavírus, é mais do que necessário destacar quem foram as mulheres que trouxeram avanços importantes para o mundo.

Pensando nisso, elaboramos este material para que você entenda o porquê da existência da data e conheça algumas dessas profissionais. Confira!

Importância da data

Dados da Unesco apontam que as mulheres representam cerca de 30% dos pesquisadores do mundo todo. As barreiras sociais enfrentadas pelas mulheres são diversas, e muitas estão associadas à área na qual atuam.

Embora 59% dos estudantes universitários do Brasil sejam mulheres, apenas 41% estão matriculadas em cursos de exatas, de acordo com estudo do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Na área de engenharia, o número reduz para 29%.

Partindo deste contexto, muitas mulheres perdem o interesse pelo tema, já que muitas vezes não recebem o mesmo estímulo e não se enxergam tão bem representadas pela classe como os homens.

Outro aspecto relevante para ser retratado é a idade. O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) oferece bolsas de produtividade, entretanto os números para mulheres acima de 30 anos de idade são baixos — 19% para mulheres entre 30 e 34 anos e 25% para mulheres entre 35 e 39 anos.

Esse período de idade coincide com o crescente número de mães que têm filhos aos trinta. O IBGE relata que a porcentagem de mães com mais de 30 anos subiu de 24% para 37,9% entre 2000 e 2020.

Um avanço recente em relação ao assunto ocorreu em 2021, que foi a permissão da licença-maternidade no Currículo Lattes, principal forma de cientistas brasileiros ingressarem em instituições de pesquisa. A iniciativa surge para que a maternidade não impacte no desenvolvimento das carreiras das profissionais interessadas na área, sendo que elas podem reservar o tempo sem temerem perder a relevância de seus trabalhos. 

Embora há muito que se trabalhar para que as mulheres ganhem reconhecimento nas ciências, existem nomes muito relevantes que atuaram para a descoberta de temas atuais ou que ainda seguem fazendo pesquisas.

1. June Almeida

Conforme sabemos, o Sars-Cov-2 é um vírus pertencente ao grupo do coronavírus. Porém, a primeira descoberta dessa "família" foi há alguns anos, em meados do século XX. Nascida em um bairro pobre da Escócia e filha de motorista, June Almeida largou o colégio quando tinha apenas 16 anos. Nesse período, se tornou técnica de laboratório na região — e pouco tempo depois já era uma especialista em microscopia eletrônica.

Tomando gosto pelo trabalho, June começou a estudar sobre o tema, além de desenvolver imagens de vírus — sendo a pioneira nesse ramo. E justamente nesses estudos que a cientista identificou um vírus que contava com as extremidades arredondadas — o que conhecemos hoje como coronavírus.

Uma pequena amostra de vírus chamou a atenção de June e sua equipe, uma vez que, apesar de contar com sintomas semelhantes ao de um resfriado comum, tinha particularidades que mereciam um estudo mais aprofundado da ciência. O nome, dado por ela mesma, era em razão da coroa que aparece na imagem viral.

June faleceu no ano de 2007, com 77 anos, vítima de uma parada cardíaca. Porém, o seu legado será sempre reconhecido na comunidade científica.

2. Ester Sabino

Com o surgimento de uma nova variante do coronavírus no final de 2019, a ciência começou a estudá-la para identificar quais eram as diferenças existentes para os outros vírus do mesmo grupo, e quais seriam os riscos globais de uma nova pandemia.

No Brasil, a professora, pesquisadora e imunologista, Ester Sabino, se destacou por sequenciar o genoma desse novo coronavírus. Ou seja, entender quais eram as informações que o vírus carregava. Os estudos começaram dois dias depois que o primeiro caso foi identificado no estado de São Paulo. Com o apoio de outros pesquisadores do Instituto Adolfo Lutz, da Universidade de Oxford, e também do Instituto de Medicina Tropical da USP, Ester alcançou sucesso nessa pesquisa.

Ao entender essas informações, tanto epidemiologistas quanto especialistas da área da saúde conseguem desenvolver as vacinas, uma das únicas saídas para colocar um ponto final na pandemia.

O time que se preocupou em identificar o genoma era composto de 27 profissionais, dos quais 17 eram mulheres. Além do sequenciamento do coronavírus, a pesquisadora de 61 anos, do estado de SP, também se destacou nos estudos do HIV, da anemia falciforme, da doença de chagas e de arboviroses.

3. Jaqueline Jesus Goes

Jaqueline Jesus Goes é biomédica, doutora em Patologia Humana e Experimental e também faz parte da equipe de Ester Sabino. Com apenas 30 anos, é uma das mulheres mais jovens da equipe liderada por Ester, onde atua como uma das coordenadoras.

No ano passado, Jaqueline realizou uma palestra online para o TEDx PUC Minas respondendo à seguinte pergunta: por que cientistas mulheres são esquecidas pela História? Segundo ela, "o nome desse fenômeno é invisibilidade feminina. É quando as mulheres não são vistas — não porque elas não estão presentes nesses espaços —, mas porque a estrutura na qual elas estão inseridas dificulta que elas sejam enxergadas".

Além disso, Jaqueline expôs algumas iniciativas realizadas pela ONU para trazer igualdade de gênero, independentemente da área de atuação.

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4. Nísia Trindade

Nísia Trindade foi presidente da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), primeira mulher eleita em toda a história da instituição e é a atual Ministra da Saúde. A instituição de pesquisa e desenvolvimento com sede no Rio de Janeiro, ganhou holofotes durante a sua presidência (entre 2017 e 2022) com a fabricação de uma das vacinas aprovadas no Brasil (a de Oxford).

Nísia foi servidora e doutora em Sociologia e atuou como integrante do conselho editorial da Fiocruz, além de ser da comissão organizadora de importantes eventos do local. Fundada em 1900 pelo sanitarista que dá o nome à fundação, é considerada uma das instituições mais importantes de toda a América Latina.

Além disso, é professora honoris causa — “por causa de honra” em latim — da UFRJ, bem como membro titular da Academia Brasileira de Ciências, eleita em dezembro de 2019. Hoje, suas principais atividades envolvem o reforço da vacinação no país e o enfrentamento da crise humanitária que acontece com os yanomamis.

Quanto ao fato de ser mulher na ciência, a atual Ministra da Saúde afirma que "em todos os locais, vai ter elementos machistas. A gente tem uma cultura instalada. Isso é estrutural, global. Raramente você tem lugares ou relações em que você possa dizer que, de fato, está livre dessas pressões de gênero, poder e preconceitos".

5. Marcelle Soares Santos

Mestre e doutora em Astronomia, Marcelle Soares Santos participou da criação de um dos maiores detectores de luz já feitos, localizado no Chile, e hoje auxilia no mapeamento de novas galáxias. O projeto em que ela atua como coordenadora é chamado de Dark Energy Survey, no qual estudiosos buscam entender e detectar aspectos referentes a supernovas e a matéria escura.

Em 2017, junto a um grupo de 16 líderes, Marcelle anunciou a primeira observação de luz emitida por uma colisão de estrelas de nêutrons à National Science Foundation, agência governamental estadunidense que fundamenta pesquisas. Este processo foi possível por conta do telescópio NOAO, que a profissional ajudou a construir.

Nascida em Vitória (ES), a astrofísica de 39 anos se formou na Universidade Federal do Espírito Santo (UFES) e depois se especializou na Universidade de São Paulo (USP). Além disso, Marcelle também leciona Física na Universidade Brandeis (EUA) e é pesquisadora no Fermi National Accelerator Laboratory, um dos laboratórios de física de partículas mais importantes do mundo.

6. Sonia Guimarães

Com 65 anos de idade hoje, Sonia Guimarães se formou em 1979 na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), em São Paulo e, 10 anos depois, tornou-se a primeira mulher negra brasileira doutora em Física pela University of Manchester Institute of Science and Technology, na Inglaterra.

Continuando o seu pioneirismo, Sonia foi a primeira mulher negra a lecionar no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), período em que o quadro de professoras da instituição era baixo. Hoje ela atua também como pesquisadora da área de matéria condensada, com ênfase em Propriedade Eletro-óticas de Ligas Semicondutoras.

Além disso, a física trabalha em diversas frentes com foco na inclusão inclusão de mulheres negras nas Ciências Exatas, como membro da Associação Brasileira de Pesquisadores Negros (ABPN), da Comissão de Equidade, Diversidade e Inclusão na Física, da Sociedade Brasileira de Física (SBF). Também é fundadora da AFROBRAS, ONG mantenedora da Universidade Zumbi dos Palmares.

7. Mayana Zatz

Nascida em Tel Aviv, Israel, Mayana Zatz veio para o Brasil ainda criança e conseguiu a sua nacionalidade aqui. Hoje ela é bióloga molecular e geneticista e é amplamente premiada internacionalmente, com destaque para o L'Oréal/Unesco para Mulheres na Ciência (2001), a eleição de Personalidade do Ano da Ciência segundo a Revista ISTOÉ Gente (2006) e o prêmio México de Ciência e Tecnologia (2008).

Hoje, Mayana é Professora Titular de Genética do Instituto de Biociências e coordenadora do Centro de Pesquisas do Genoma Humano e Células-Tronco da USP, área em que ela foca com suas pesquisas e que já escreveu diversos artigos publicados a respeito.

Após ter feito pós-doutorado na Universidade da Califórnia, Mayana retornou ao Brasil e foi uma das pesquisadoras pioneiras no estudo de um gene relacionado a um tipo de distrofia. Ela também participou de uma equipe responsável pelo mapeamento do gene que causa a síndrome de Knobloch, uma doença genética rara.

Neste material, você pôde conhecer alguns importantes nomes que escolhemos homenagear no Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência. Trazer esse reconhecimento contribui para destacar um importante trabalho realizado por elas, além de dar voz às mulheres de destaque em diferentes frentes de pesquisa.

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