No dia 23/8 faremos o evento A Virada de Jogo do RH, em que entrevistarei a incrível Marta, capitã da Seleção Brasileira de futebol e melhor jogadora do mundo por seis vezes.

Virou moda comparar organizações e suas culturas com times esportivos competitivos e com famílias. Também virou moda dizer que as melhores organizações devem funcionar como times esportivos, e devem evitar funcionar como famílias.

Esse assunto ficou ainda mais na minha cabeça depois que fui convidado pra entrevistar a gloriosa Marta, capitã da Seleção Brasileira de futebol e melhor jogadora do mundo por seis vezes, para o nosso evento do dia 23 de Agosto, A Virada de Jogo do RH.

Então resolvi escrever um artigo rápido de "esquenta" para te preparar para a entrevista.

O argumento

Quem diz que empresas têm que se parecer mais com times esportivos profissionais e menos com famílias geralmente argumenta o seguinte: 

  • times esportivos, por um lado, possuem objetivos claros, buscam a alta performance e não toleram membros e membras que não "carreguem a sua cota de peso" etc;
  • familias, por outro lado, toleram quase todo o tipo de comportamento em nome do amor incondicional (p.ex., passam o famoso "pano quente"), não buscam o desenvolvimento nem a performance etc.

Muita gente usa essa metáfora. Resolvi compilar alguns exemplos mais ou menos conhecidos que mostram como organizações a usam para clarear o que esperam de suas culturas e de seus colaboradores e colaboradoras.

Netflix: onde a discussão ganhou força

O exemplo mais conhecido de uso dessa metáfora vem do "deck" de cultura da Netflix, que falava:

"We're a team, not a family We're like a pro sports team, not a kid's recreational team Netflix leaders hire, develop and cut smartly, so we have stars in every position" "we try to bring great people together as a dream team."

Já no seu site de carreiras, que faz as vezes de deck de cultura, a empresa diz:

"We model ourselves on being a professional sports team, not a family. A family is about unconditional love. A dream team is about pushing yourself to be the best possible teammate, caring intensely about your team, and knowing that you may not be on the team forever. Dream teams are about performance, not seniority or tenure. It is up to the manager to ensure that every player is amazing at their position, plays effectively with others and is given new opportunities to develop. That’s how we keep winning the championship (entertaining the world). Unlike a sports team, as Netflix grows, the number of players also grows. We work to foster players from the development leagues so they can become the stars of tomorrow."

Shopify: uso recente

Ainda em tech, recentemente o CEO e fundador da Shopify publicou um memorando fazendo referência a times x famílias. Nele, Lutke fala que "aqui na Shopify, não vimos sendo muito bons em deixar as expectativas claras através da organização, e isso está virando um problema... Não sei exatamente como fazer isso, mas um bom começo seria lembrar a todos que somos um negócio. Mais importante, um negócio enormemente ambicioso... Para deixar isso ainda mais claro para nossos colaboradores, eis algumas coisas que não somos: Nós não somos uma família... Você nasce em uma família, mas a família não pode te demitir. Deveria ser óbvio que a Shopify não é uma família mas eu vejo pessoas, até líderes, casualmente usando o termo "Shopifam", que causa confusão nas pessoas, especialmente as mais juniores, levando-as a ter a impressão errada. O perigo de pensar a Shopify como uma família é que fica muito difícil demitir alguém que não esteja performando assim. Somos um time, e não uma família."

AB Inbev

Como último exemplo, vamos sair de tech e voltar pro "mundo real". Carlos Brito, ex-CEO da AB Inbev, também faz muitos paralelos entre o que entende serem culturas de sucesso e os esportes. Brito diz que na escola e nos esportes, estamos acostumados a viver sob meritocracias: "no esporte, se você é bom, joga, se não é bom, fica no banco, e na escola, você sabe exatamente o que uma nota F quer dizer". "Daí, você vai para a empresa, e a avaliação de desempenho não é tão direta [como na escola ou nos esportes]..."

Como fica claro, a turma gosta muito de buscar que seus times se pareçam com times esportivos profissionais, ao mesmo tempo que buscam que seus times não se pareçam com famílias. Mas em que aspectos realmente queremos (e não queremos) que nossos times se pareçam com times e famílias?

O que estamos comparando?

Vale dizer que quando se comparam times e famílias no contexto que estamos discutindo, a comparação geralmente é um pouco injusta. Quando falamos de famílias, geralmente falamos de características de famílias mais disfuncionais. Quando falamos de times, geralmente falamos de características de times que performam no seu melhor. Provavelmente famílias super saudáveis e funcionais tenham vários aspectos em comum com times de alto desempenho. 

E a sua organização? Seu time? Se parece mais com uma família ou com um time de alta performance?