Um estudo da KPMG com a Harvey Nash descobriu que, em 2021, apenas 12% das 4 mil lideranças em tecnologia entrevistadas eram femininas, número que teve queda em relação aos 14% registrados em 2019. A pesquisa destacou a necessidade de mais esforços para promover a inclusão e a equidade de gênero dentro do ambiente corporativo.

Outro relatório, intitulado “Tech Leavers Study” e conduzido pelo Kapor Center for Social Impact em colaboração com a Harris Poll, apontou que mulheres geralmente deixam a indústria de tecnologia por falta de desenvolvimento profissional e também por falta de apoio e inclusão no local de trabalho.

Muito além dos estudos, a vivência do cotidiano evidencia na prática como a misoginia impacta em questões relacionadas ao viés de gênero, a falta de capacitações, a desigualdade com relação às oportunidades, entre outras. Algumas lideranças femininas do UOL EdTech, de áreas diferentes, comentaram sobre o assunto com a gente. Confira o texto!

A falta que faz um ambiente representativo

“Acredito que o grande desafio enfrentado pelas mulheres é o fato de estarmos cercadas por líderes e liderados masculinos”, relata Isabella Ares, Coordenadora de Product Marketing e Customer Marketing do UOL EdTech

O machismo explícito é muito combatido por conta da obviedade das situações. Porém, para muitas mulheres, o viés de gênero pode se revelar de forma implícita, por meio de comentários frequentemente tidos como inofensivos, mas que revelam preconceitos.

“Quando a grande maioria das referências nos assuntos são masculinas, a correlação entre gênero e capacidade técnica fica implícita. O machismo estrutural, implícito, se manifesta em pequenas decisões, questionamentos e ações que minam nossa confiança e corroboram com essa associação equivocada”, comenta Carolina Miki Arakaki, Coordenadora de Engenharia de Software do UOL EdTech.

Ao longo de sua carreira, Isabella relatou, em determinados momentos, sentir a necessidade de se posicionar de forma mais impositiva, diferentemente dos homens que observava ao seu redor, enfrentando questões como o mansplaining e manterrupting. “Quando o ambiente é machista, acaba passando a sensação de que as falas das mulheres às vezes não trazem credibilidade ou falta embasamento”.

Em consequência de acontecimentos como esses, Camila Fullen, Líder de SDR, traz a Síndrome do Impostor como uma das principais consequências do machismo em sua carreira. “Isso ainda impacta muito pra mim e foi algo que veio principalmente pela pouca representatividade. Acabo me auto sabotando algumas vezes, acreditando que estou abaixo do esperado, mesmo sem ninguém ter me dado indícios”.

Não ter uma liderança feminina impacta diretamente em não ter olhares diferentes para a solução de problemas, além de diversas questões ignoradas. “Uma consequência dessa inclusão é o surgimento de soluções inovadoras, uma vez que contemplam experiências, interpretações e visões diversas sobre desafios até então analisados por um conjunto muito menor de perspectivas”.

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Os benefícios de um ambiente representativo

No contexto corporativo, uma equipe que se preocupa em desenvolver a diversidade de gênero tende a ser mais inovadora e criativa, de acordo com um estudo publicado pela Harvard Business Review.

Além do âmbito coletivo, também é muito importante destacar o impacto individual causado pelo fomento à diversidade. Camila comenta que percebe uma maior inteligência emocional nos ambientes que possuem liderança feminina e que esse cuidado motiva outras mulheres a assumirem mais cargos do tipo. 

“Aumentando a representatividade, a gente aumenta a motivação das colaboradoras. É importante incentivar cada vez mais a contratação de mulheres e incentivá-las a olhar para o plano de carreira, montando estratégias de mentoria, por exemplo”, comenta Camila

Isabella também reforça a frase ao mencionar perceber mais união em ambientes com mais lideranças femininas. “Participo de vários grupos de tech com mulheres que utilizam esse espaço para trocar conhecimento, inclusive sobre como se posicionar em ambientes pouco representativos. Isso é importante para trazer uma visão diferente no clima do time, já que algumas pessoas começam a entender que alguns comentários e comportamentos não têm cabimento, por exemplo”.

Como ter representatividade feminina nas equipes?

Diversas são as possibilidades, porém ter políticas e iniciativas com foco na capacitação de lideranças femininas é importante. Isabella relata o seu time como exemplo, que possuiu um programa de indicação de mulheres quando ainda estava em formação.

“Esse tipo de programa de incentivo, como vagas afirmativas, é um bom jeito de começar. Quando começamos a ter mais mulheres na nossa área, criamos fóruns para discutir diversidade e entender ainda mais sobre o assunto. Hoje, temos vários espaços para discussão de diversidade”, complementa.

Como solução dessa questão, Carolina acredita que as gestões devem focar em oportunidade e em um ambiente seguro como as principais medidas a serem tomadas para promover lideranças femininas.

“Vagas de liderança afirmativas são um grande e importante avanço no sentido da abertura de oportunidades, mas não basta, já que é preciso suporte. É fundamental oferecer um ambiente em que mulheres se sintam seguras para exercerem suas funções, para desenvolver ou até mesmo descobrir habilidades e potenciais que, historicamente, foram reprimidos em função de uma sociedade machista”, diz Carolina

Embora a representatividade feminina em cargos de liderança ainda seja baixa, principalmente na área tech, ela tende a crescer conforme os anos. A McKinsey & Company relatou que, em 2020, as mulheres já representavam 28% dos cargos de liderança das empresas do mundo todo, em comparação com 23% em 2015

Com mais políticas e iniciativas que fomentem lideranças femininas, um real cenário de igualdade se aproxima cada vez mais. Se você gostou deste conteúdo, continue no blog e confira um panorama completo sobre mulheres no mercado de trabalho!