Globalmente, o contexto atual do trabalho vem sendo definido por automações crescentes, pressão por resultados imediatos e dependência tecnológica. No entanto, esse modelo alcança algo mais profundo do que apenas a produtividadea forma como usamos o nosso cérebro —, dando início ao sedentarismo cognitivo.

O conceito, surgido nesse contexto, é abordado por especialistas em educação digital, aprendizagem e temas relacionados, tanto dentro quanto fora do mundo corporativo. Neste artigo, você vai entender o que é e qual a preocupação em torno do sedentarismo cognitivo, além de seus impactos e ações para evitá-lo.

O que é sedentarismo cognitivo

O sedentarismo cognitivo ocorre quando indivíduos terceirizam o pensar e deixam de exercitar plenamente suas capacidades mentais, "delegando" o pensamento crítico para tecnologias, processos automatizados ou até outras pessoas.

O conceito tem ganhado espaço no debate público especialmente após a ampla difusão de ferramentas de Inteligência Artificial. Com ela mais acessível, muitos profissionais deixam que as ferramentas façam o trabalho de raciocinar, decidir e propor soluções.

A consequência dessa terceirização, em linhas gerais, é um empobrecimento das habilidades humanas essenciais, como senso crítico e capacidade de questionar. É o equivalente mental ao sedentarismo físico:

quanto menos usamos certas funções cognitivas (análise, julgamento, criatividade, reflexão), mais elas se enfraquecem.

Maiti Junqueira, nossa Diretora de Soluções de Performance, Educação e Desenvolvimento, e Luis Felipe Rodas, nosso Diretor de Negócios, apresentando a palestra “A Era da Inteligência Integrada”, no CRIARH 2025 | Reprodução: Linkedin - Qulture.Rocks

Principais causas do sedentarismo cognitivo no trabalho

O sedentarismo cognitivo atinge a sociedade de modo geral, mas tem forte impacto no cenário corporativo. A seguir, explicamos as principais causas do seu crescimento nas empresas.

1. Automação de tarefas e uso excessivo da IA

A automação de tarefas repetitivas reduz a demanda cognitiva. Quando deixamos que sistemas inteligentes executem todas as decisões operacionais, perdemos o hábito de refletir sobre processos e resultados.

2. Cotidiano multitarefas e superficialidade mental

O multitasking constante, típico de ambientes digitais, induz à superficialidade cognitiva. Alternar entre muitas tarefas faz com que o cérebro opere em modo fragmentado, dificultando a concentração e o pensamento profundo.

3. Cultura do imediatismo

É comum que a cultura do “aqui e agora” empurre decisões para o nível tático, sem tempo para reflexão. Isso reforça a tendência de buscar respostas rápidas em vez de compreender causas estruturais.

4. Sobrecarga de informações

O excesso de tarefas, dados, notificações e mensagens cria um cenário de fadiga cognitiva, no qual o cérebro se esgota apenas filtrando estímulos. Assim, sobra pouca energia mental para pensar estrategicamente.

Dados alertam: o impacto do sedentarismo cognitivo nas organizações

A Gartner, empresa global de consultoria e pesquisa, vem apontando riscos importantes nessa jornada.

Um deles é a erosão de habilidades: à medida que sistemas de IA assumem processos, colaboradores perdem competências básicas, reduzindo sua capacidade de avaliar, questionar ou intervir quando algo sai do previsto. O resultado é um estado de dependência tecnológica, conhecido como AI lock-in.

As projeções são igualmente provocativas: até 2027, agentes de IA devem automatizar ou apoiar 50% das decisões de negócios. Isso significa que o risco do sedentarismo cognitivo não é abstrato — ele já está no horizonte imediato da gestão.

Outro dado relevante mostra que empresas cujos executivos desenvolvem literacia em IA — ou seja, entendem riscos, oportunidades e custos — tendem a apresentar 20% mais desempenho financeiro do que aquelas que não cultivam essa competência. Ou seja, não basta adotar tecnologia: é preciso treinar líderes e equipes para usá-la de forma consciente e estratégica.

Além disso, o excesso de canais e mensagens duplicadas aumenta a fadiga mental e reduz o engajamento. Enquanto automatizamos atividades, enchermos a mente de estímulos desnecessários, o pior dos dois mundos.

Sinais de sedentarismo cognitivo nas equipes

Identificar o problema é o primeiro passo para combatê-lo. Alguns sinais comuns incluem:

  • dificuldade de tomar decisões sem apoio de ferramentas ou planilhas;
  • falta de curiosidade ou iniciativa para questionar processos;
  • reações automáticas, com pouca reflexão;
  • baixo engajamento em discussões estratégicas;
  • dificuldade em lidar com situações novas ou ambíguas.

Esses comportamentos indicam que o time pode estar dependente da automação e pouco exercitando o pensamento crítico.

Como combater o sedentarismo cognitivo nas organizações

O sedentarismo cognitivo é um efeito colateral da automação sem preparo humano. Mas é possível equilibrar o uso da tecnologia com a preservação das habilidades mentais.

A seguir, veja algumas práticas recomendadas.

1. Exercitar (com intenção) o pensamento crítico

Mantenha atividades que estimulem reflexão e análise, mesmo quando parte do trabalho é automatizada. Promover insight meetings, retrospectivas e discussões abertas ajuda o cérebro a continuar “levantando peso cognitivo”.

2. Promover literacia em IA

Forme líderes e equipes capazes de entender, questionar e direcionar o uso da tecnologia. A literacia digital é uma das competências-chave do futuro e deve fazer parte dos programas de treinamento e desenvolvimento.

3. Garantir governança e revisão humana

Crie critérios claros de decisão e mecanismos de revisão humana em processos automatizados. Isso mantém o senso de responsabilidade e evita decisões cegamente guiadas por algoritmos.

4. Reduzir a sobrecarga de informação

Revise canais, comunicações e fluxos internos. Menos ruído = mais clareza mental. Use ferramentas com notificações inteligentes e incentive pausas digitais durante o expediente.

5. Estimular hábitos analógicos

Incentivar práticas como leitura, escrita manual, caminhadas reflexivas e resolução de problemas sem computador também ajuda a manter o cérebro em movimento.

O papel das lideranças no combate ao sedentarismo cognitivo

Lideranças desempenham papel decisivo para evitar a passividade intelectual das equipes. São eles que devem:

  • criar espaços seguros para discussão e divergência de ideias;
  • promover perguntas desafiadoras em reuniões;
  • reconhecer quem pensa criticamente e não apenas quem executa rápido;
  • integrar o desenvolvimento humano ao uso estratégico da IA.

Essas ações estimulam autonomia cognitiva, reduzindo o risco de times que apenas “seguem o sistema”.

A saída: manter a energia cognitiva e o pensar ativos na era da IA

Se a saúde física exige movimento, a saúde mental exige pensamento ativo.

O risco do sedentarismo cognitivo não é apenas individual, mas organizacional: empresas que não estimulam o raciocínio profundo podem perder inovação, adaptabilidade e qualidade nas decisões.

Automação e Inteligência Artificial são inevitáveis incrivelmente úteis. Porém, o futuro não deve ter como objetivo delegar o pensar, e sim usar a tecnologia como alavanca para o desenvolvimento humano.

Luis Felipe Rodas no bate-papo "Educação como Estratégia para Potencializar Resultados" no CRIARH 2025 | Reprodução: LinkedIn - Qulture.Rocks

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